quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Homem Certo X Homem Errado

Sempre ouvi minhas amigas dizerem que, enquanto não acharem o homem certo, vão se divertir com os errados. Andei pensando sobre isso. A gente conhece os homens certos e pensa que são os errados, conhece os errados e pensa que são os certos. No fundo, no fundo, a gente nunca sabe. Já vivi casos dos mais malucos e, acredite, não é nada fácil saber quem é o homem certo e quem é o homem errado. Eu mesma ainda não sei. O que eu sei é que eu já tenho algumas pistas bem claras. E continuo errando.

O homem certo é aquele que quer te encontrar sábado à noite. Então, ele leva a melhor pizza da cidade pra sua casa. Leva vinho – e melhor: leva taças lindas – e fica com você (lindo e cheiroso) na sua casa. O homem errado quer ir pra melhor festa da cidade no sábado à noite. Com ou sem você. De preferência, sem. Agora, se ele te encontrar (por acaso) nessa festa, ele vai jurar, de pés juntos, que estava afim de te encontrar naquela noite. Vai ver não te ligou porque acabaram todos os telefones do mundo.

O homem certo telefona pra você e faz o convite: vamos fazer alguma coisa hoje à noite? Ele quer sua companhia. Liga pro seu celular às sete da noite pra garantir que você não vai arrumar nenhum programa melhor do que sair com ele. O homem errado te liga meia-noite e pergunta onde você tá. Claro, ele saiu e viu que a noite dele não ia dar em nada, então, resolveu te ligar. Muito provavelmente, você era o último número discado no celular dele. E, mais provável ainda: se você não atender, ele disca a próxima letra da agenda.

O homem certo te chama por apelidos carinhosos. Você é a Ju. A Renatinha. A Carol. Ou a Mi. O homem errado evita pronunciar seu nome em qualquer que seja a situação. Por razões óbvias: ele corre um sério risco de confundir seu nome com o de alguma outra baranga que ele pega. E, pra não confundir Brena com Bruna, ele evita pronunciar seu nome a menos que seja estritamente necessário. Quando quer falar com você, as frases começam com “ow”, “aqui” ou “véi”. Aff.

O homem certo quer te conhecer melhor. Pergunta sobre sua família, quer saber quantos irmãos tem. Quer saber dos seus valores. Do que você faz. Dos seus planos pro futuro. Dos seus objetivos na vida. O homem errado quer saber a cor da sua calcinha.

O homem certo diz que você está bonita com aquela calça nova. Elogia seu bronzeado e pergunta se você tem tomado sol. Repara em você. Repara se você está com uma carinha triste. Se está feliz. Se está passando mal-quase-morrendo no meio da festa. Pergunta se você melhorou, no dia seguinte. O homem errado nunca a elogia porque não repara em você. Só fala você é sarada (isso seu espelho já diz). Que você é gostosa. Gostosa o escambau!

E eu já não sei mais de nada. Se me divirto com os homens certos ou se insisto nos homens errados. E acabo procurando príncipes e beijando sapos. E beijando príncipes que viram sapos. E preferia não saber de nada disso pra continuar me divertindo e dando risada. Ainda que de mim mesma. Ainda que dos meus tropeços. Das minhas mancadas. Das escolhas erradas. E até dos homens errados. Queria rir disso tudo. Mas simplesmente não consigo. Não consigo fingir que não é comigo. Porque sou eu que me ferro por achar que o homem errado é o homem certo. Ou por dispensar o homem certo achando que era errado. Ou por fazer tudo errado. Sou eu que analiso, o tempo inteiro, as situações. As atitudes. Os mínimos detalhes que passariam despercebidos. Tentando fazer com que o homem errado pareça o homem certo. Tentando justificar, pra mim mesma, porque é que eu perco tanto tempo com aquele cidadão que não merece um minuto. Tentando achar defeitos no outro cidadão que merece a vida inteira. Tentando estabelecer rótulos do que é certo ou o que é errado ao invés de simplesmente viver sem tentar entender. Sabe de uma coisa? Vou me divertir sozinha mesmo enquanto não me encontro.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Carinhos Quentes

Era uma vez, uma cidade, uma cidade como todas as outras e ao mesmo tempo diferente de todas as demais porque naquela cidade todo mundo era feliz.

Certa vez, uma bruxa má resolveu se instalar naquela cidade e como toda bruxa má que se preza ela vendia poções, pozinhos e etc, enfim, aquelas coisas que as bruxas más vendem...

Mas, para o espanto da bruxa, ninguém comprava os produtos da bruxa, e ela ficou encafifada com aquilo

Ela então contratou uma equipe de marketing - era uma bruxa moderna - para resolver aquela situação. A equipe fez pesquisas, levantamentos, e explicou para a bruxa que naquela cidade todo mundo ao nascer vinha ao mundo com um saquinho mágico, em que nele havia uma substância realmente mágica que quando era ofertada à alguém, essa substância mágica crescia energeticamente envolvendo tanto quem deu como quem recebeu proporcionando uma autêntica sensação de paz e de felicidade.

E o Nome dessa substância mágica era "Carinhos Quentes"; e todo mundo dava - e, naturalmente, assim todo mundo recebia - Carinhos Quentes e assim todos eram felizes e não precisavam dos produtos da bruxa.

A bruxa pensou, pensou e pensou até que então arquitetou um plano. Ela chegou para um pai de família e disse:

- Olha sua esposa dando Carinhos Quentes para os outros... Já pensou se acabam?

Até então, nunca alguém havia pensado na possibilidade dos Carinhos Quentes se esgotarem. O marido chegou para sua esposa e disse:

- Esposa, acabou essa história de ficar dando Carinhos Quentes para os outros. Agora é só nosso e olhe lá...

E se tornaram egoístas quanto aos Carinhos Quentes.

As crianças vendo aquilo - e as crianças sabem que palavras convencem mas exemplos arrastam... - começaram também a se tornar egoístas dos Carinhos Quentes. E com o passar do tempo, aquele novo comportamento foi se alastrando pela cidade até que um dia ninguém mais dava - e assim ninguém mais recebia - Carinhos Quentes.

As pessoas passaram a sentir um vazio, uma angústia, uma falta que não sabiam explicar do que, e assim, por desespero, começaram a consumir os produtos da bruxa.

E a bruxa ganhou rios de dinheiro, ficou muito contente, com sorriso de orelha a orelha, até que aconteceu algo com o que não contava. O que aconteceu?

As pessoas começaram a morrer - pois ninguém vive sem Carinhos Quentes! - e a bruxa pensou: "Isso eu não quero, pois se não, quem vai continuar me dando dinheiro?"... A bruxa pensou, pensou e pensou e então lançou no mercado um novo produto: Os Espinhos Frios.

Os Espinhos Frios servem para ferir, agredir, magoar as outras pessoas.

Entre dar e receber nada ou trocar Espinhos Frios, as pessoas então passaram a trocar entre si Espinhos Frios. Já não mais morriam, mas continuavam extremamente insatisfeitas, infelizes, movidas por um desejo deslizante que nunca se saciava e por aquele rol de negatividade anteriormente mencionado.

Mais adiante, alguém da equipe da bruxa teve a idéia de revestir os Espinhos Frios com uma camada que imitava aqueles quase esquecidos Carinhos Quentes de outrora. A esse novo produto foi dado o nome de "Carinhos de Plástico".

Os "Carinhos de Plástico", à primeira vista, parecem Carinhos Quentes, mas assim que se desmancha a superficialidade, revela-se que o que tem por dentro é um tremendo de um Espinho Frio.

Pois bem. Assim ia a cidade sobrevivendo, com as pessoas mediocremente trocando entre si Espinhos Frios e Carinhos de Plástico, até que um dia, um jovem regressou à cidade e a bruxa não conseguiu fazer a cabeça desse jovem.

E ele seguia sua própria natureza, dando Carinhos Quentes para quem encontrasse em seu caminho.

Algumas pessoas vendo aquilo, exclamaram: "Esse homem é louco! Está dando Carinhos Quentes..."

Mas pelo grau de evolução que ele havia conquistado em suas peregrinações e estudos na vida, ele sabia que não devia "dar bola" para esse tipo de comentário. E assim continuou seguindo sua própria natureza, dando Carinhos Quentes para quem encontrasse.

Outros disseram: "Ele é um aproveitador, um ‘171’; deve estar tentando levar alguma vantagem, por isso está dando Carinhos Quentes...".

Mais uma vez, pelo grau de evolução que havia conquistado, sabia que não devia se deixar atingir por essas acusações. E assim prosseguiu seguindo sua natureza, distribuindo autênticos Carinhos Quentes para todos.

Até que um dia, ele encontrou uma moça -e que não era uma moça comum; era uma moça especial - e ela ao receber os Carinhos Quentes, percebeu despertar em si uma luz, uma sensação de ternura e de amor e sentiu um desejo sincero de voltar a dar Carinhos Quentes. Juntos, ela e o rapaz, continuaram dando Carinhos Quentes às pessoas.

Ao poucos, outras pessoas inspiradas pelo exemplo autêntico e sincero daquele casal, foram despertando e voltando a dar Carinhos Quentes.

Pois bem. E como então essa história termina?

Para ser muito honesto, até hoje essa história ainda não terminou...

Em todos os países, em todos os estados, em todas as cidades, existem dois grupos de pessoas:

Um deles, que é a maioria, é formado pelas pessoas comuns. E quem são as pessoas comuns? São aquelas que se limitam a dar Espinhos Frios e Carinhos de Plástico...

E o outro grupo, que por enquanto ainda é a minoria, é formado pelas chamadas pessoas especiais.

E quem são as Pessoas Especiais? São as pessoas que ousam... que se permitem compartilhar com a humanidade... autênticos, genuínos Carinhos Quentes.

Esse grupo por enquanto ainda é minoria, mas temos a crença que se fizermos a nossa parte, uma massa crítica será atingida revolucionando toda a humanidade, e assim estaremos dando nossa contribuição para a edificação de um mundo melhor de se viver...

Você que chegou até aqui lembre-se desse convite para descobrir-se uma Pessoa Especial...Semeando Carinhos Quentes!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

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Mas tudo passou tão depressa
Não consigo dormir agora.
Nunca o silêncio gritou tanto
Nas ruas da minha memória.
Como agarrar líquido o tempo
Que pelos vãos dos dedos flui?
Meu coração é hoje um pássaro
Pousado na árvore que eu fui.
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Cassiano Ricardo

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

...


Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura.Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isso que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive.O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê! Florbela Espanca

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O amor DA vida vem o amor DA vai.

Cansei das quatro paredes fechadas sem porta
Cansei do mundo lindamente ecológico do meu encontro triste

Amor da vida vem, amor da vida vai
O cansaço me abate e eu choro, choro do mundo olhando pra mim nestas indas e vindas do amor.

João, Alberto, Mario, tantos nomes no vacuo, no buraco estranho da vida.
Da vida que vem, da vida que vai, na instabilidade perpetua da vida.
Até que a brisa vem e leva tudo embora.

O Principe e a Raposa

"...E foi então que apareceu a raposa:- Bom dia. - disse a raposa.- Bom dia. - respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.- Eu estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira...- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...- Sou uma raposa - disse a raposa.- Vem brincar comigo - propôs o principezinho. - Estou tão triste...- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.- Ah! desculpa - disse o principezinho - Que quer dizer "cativar"?- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa - Significa "criar laços..."- Criar laços?- Exatamente - disse a raposa - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo......e disse a raposa:- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe.- Por favor... cativa-me! - disse ela.- Bem quisera - disse o principezinho - mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!- Que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.- É preciso ser paciente - respondeu a raposa. - Tu te sentarás primeiro longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...Assim o principezinho cativou a raposa. Mas quando chegou a hora da partida, a raposa disse:- Ah! Eu vou chorar.- A culpa é sua - disse o principezinho - eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...- Quis - disse a raposa.- Mas tu vais chorar! - disse o principezinho.- Vou - disse a raposa.- Então, não sais lucrando nada!- Eu lucro - disse a raposa - por causa da cor do trigo.- Adeus - disse ele...- Adeus - disse a raposa.- Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.- Os homens esqueceram essa verdade - disse a raposa - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."